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Agora sabemos que se a Palavra "era no princípio", também pode ser no fim: que existe um vocabulário e uma gramática dos campos da morte, que as detonações termo-nucleares podem ser designadas como "Operation Sunshine". Seria como se a quintessência, o atributo que identifica o homem - o Logos, o órgão da linguagem se tivesse quebrado dentro das nossas bocas."
O movimento da crítica (pós-estuturalista, desconstrucionista, etc.) converteu todos os textos, sagrados ou não, em pre-textos. Nessa tarefa demolidora, todos os que se interessam pela literatura participaram com um prazer perverso, porque era como se não houvesse mais nada para além dela.
Steiner acrescenta uma outra pressão, de ordem técnica, sobre a palavra escrita. "A cultura de massas, a economia do espaço e do tempo pessoal, o desgaste da privacidade, a supressão sistemática do silêncio nas culturas consumidoras de tecnologia, a expulsão da memória (do hábito de decorar) dos métodos de aprendizagem escolar, originam o eclipse dos actos de leitura e do próprio livro."
De certo modo, a falta de um fundamento, de um sentido verdadeiro que torna irrefutáveis todas as apreciações sobre um texto e desqualifica até a divisão entre o bom e o mau gosto, tem um efeito paradoxalmente semelhante ao do regime canónico e teológico que vigorou na Idade Média.
A segurança dos fundamentos levou a que toda a produção fosse uma glosa interminável, auto-replicante, e sempre conotada a uma verdade original. O actual "colapso filosófico-psicológico" permite uma igual pletora da produção, que já não precisa de se justificar, que nos convida "a ganhar confiança sólida no peso crescente - isto é, estatístico - da concordância histórica e da persuasão prática. Os latidos e as ironias do desconstrucionismo ressoam na noite, mas a caravana do "bom senso" passa." (ibidem)
Agora sabemos que se a Palavra "era no princípio", também pode ser no fim: que existe um vocabulário e uma gramática dos campos da morte, que as detonações termo-nucleares podem ser designadas como "Operation Sunshine". Seria como se a quintessência, o atributo que identifica o homem - o Logos, o órgão da linguagem se tivesse quebrado dentro das nossas bocas."
"Paixão Intacta" (George Steiner)
O movimento da crítica (pós-estuturalista, desconstrucionista, etc.) converteu todos os textos, sagrados ou não, em pre-textos. Nessa tarefa demolidora, todos os que se interessam pela literatura participaram com um prazer perverso, porque era como se não houvesse mais nada para além dela.
Steiner acrescenta uma outra pressão, de ordem técnica, sobre a palavra escrita. "A cultura de massas, a economia do espaço e do tempo pessoal, o desgaste da privacidade, a supressão sistemática do silêncio nas culturas consumidoras de tecnologia, a expulsão da memória (do hábito de decorar) dos métodos de aprendizagem escolar, originam o eclipse dos actos de leitura e do próprio livro."
De certo modo, a falta de um fundamento, de um sentido verdadeiro que torna irrefutáveis todas as apreciações sobre um texto e desqualifica até a divisão entre o bom e o mau gosto, tem um efeito paradoxalmente semelhante ao do regime canónico e teológico que vigorou na Idade Média.
A segurança dos fundamentos levou a que toda a produção fosse uma glosa interminável, auto-replicante, e sempre conotada a uma verdade original. O actual "colapso filosófico-psicológico" permite uma igual pletora da produção, que já não precisa de se justificar, que nos convida "a ganhar confiança sólida no peso crescente - isto é, estatístico - da concordância histórica e da persuasão prática. Os latidos e as ironias do desconstrucionismo ressoam na noite, mas a caravana do "bom senso" passa." (ibidem)
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