Fedor Dostoiewski (1821/1881)
"É no Rosto do Outro que aparece o mandamento que interrompe a marcha do mundo. Por que me haveria eu de sentir responsável em presença do Rosto? É essa a resposta de Caim, quando se lhe diz: "Onde está o teu irmão?", ele responde: "Será que eu sou o guardião do meu irmão?" É isso o Rosto do Outro tomado por uma imagem entre imagens e quando a Palavra de Deus que ele traz permanece desconhecida. É preciso não tomar a resposta de Caim como se ele troçasse de Deus, ou como se respondesse como um garoto: "não fui eu, foi o outro". A resposta de Caim é sincera. Na sua resposta falta simplesmente a ética; há ontologia somente: eu sou eu e ele é ele. Nós somos seres ontologicamente separados."
"Entre nous" (Emmanuel Lévinas)
A força destas palavras é irresistível. Porque se compreende através delas que a razão, só por si, é impotente para fundar a ética.
Toda a argumentação lógica passará por cima do essencial, que é a não-distinção, à face da verdade, entre os seres, e que a ideia de igualdade de condição está muito longe de esclarecer.
Há um sentido de justiça que é operário (para dizer como Alain): é justo o que está à medida. Mas há uma outra justiça que pode realmente ignorar a justeza, ser desequilibrada até.
"Uma das coisas mais importantes para mim, é esta assimetria e esta fórmula: todos os homens são responsáveis uns pelos outros, e eu mais do que qualquer de entre eles. É a fórmula de Dostoiewski (...)."
(Ibidem)
0 comentários:
Enviar um comentário