segunda-feira, 26 de junho de 2017

AS FORMAS DA LIBERDADE

Alexis de Tocqueville (1805/1859)


"(...) não quebra as vontades mas amolece-as, dobra-as e dirige-as; raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói nada, impede de nascer; não tiraniza nada, incomoda, comprime, enerva, extingue, embrutece e reduz cada nação a não ser mais do que um rebanho de animais tímidos e industriosos, do qual o governo é o pastor.

Sempre acreditei que esta espécie de servidão regulada, doce e pacífica, de que acabo de traçar o quadro, se poderia combinar melhor do que aquilo que se imagina com algumas formas exteriores da liberdade, e que não lhe seria impossível estabelecer-se à sombra da própria soberania do povo."

"De la démocratie en Amérique" (Alexis de Tocqueville)

Que modelo de liberdade inspira este observador estrangeiro, ele próprio oriundo da nobreza do Antigo Regime da França, que lhe permite esta argúcia política e esta surpreendente modernidade?

Fala-se aqui em rebanhos e em pastores, em paz e, crê-se, em prosperidade, mas a liberdade ter-se-ia tornado "exterior", formal, como diria a crítica marxista. A democracia de que Tocqueville faz o diagnóstico parece ter perdido a sua essência política, com a acção e a palavra sem outro sentido que não seja o da necessidade, da economia ou do bem-estar.

Tocqueville julga, pois, o regime americano, não à luz da experiência do seu próprio país (a Revolução e o bonapartismo), mas do conceito de política, tal como nos foi legado pela tradição clássica.

De facto, se quisermos encontrar um país em que, nesse sentido, a política seja realmente impolítica teremos de dirigir o nosso olhar para o outro lado do Atlântico.

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