sexta-feira, 13 de abril de 2012

PLATÃO REDIVIVO

"As filhas de Jethro" (Sandro Boticelli)


"É  poder do génio fazer-nos amar uma beleza que sentimos mais real do que nós, naquelas coisas que aos olhos dos outros são tão particulares e tão perecíveis quanto nós próprios."

Marcel Proust



O que é dizer o mesmo que a arte é o melhor meio de nos compreendermos. Não, evidentemente, porque, em princípio, dura mais do que nós, nem isso a tornaria mais real.

O platonismo de Proust descobre, por exemplo, na pintura, a forma e os símbolos duma vida humana que, doutro modo, não seria salva da perda do sentido, porque a arte é o nosso antídoto contra a entropia universal...

O embeiçamento de Swann por Odette de Crécy, que lhe vem do "reconhecimento" nela duma figura de Botticelli, corresponde à percepção duma realidade maior que transcende a corrente da existência, e não é tão extraordinário quanto parece.

De facto, na medida em que o amor chamado romântico não é o desejo, encontraremos nele sempre um elemento idealista alimentado pela arte, popular ou não.

A transfiguração de Odette, via Botticelli, é, assim, um caso típico do amor e um triunfo, aparentemente anacrónico, de Platão. A ironia disto é que o adjectivo platónico designaria um amor obsoleto...

0 comentários: