sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A ÚLTIMA VAIDADE





Na última cena de "Providence" (Alain Resnais, 1977), o velho escritor (John Gielgud) despede-se da família e da vida erguendo a última taça de vinho. É o momento dum triunfo literário sobre o seu cancro nos intestinos.

Sabemos, desde o início, que estamos para lá do "no trespassing" do Xanadu de "Citizen Kane", porque aquela é a matéria da sua escrita na qual se "manipula" a história familiar e tenta extrair das personagens o seu segredo, seja a rivalidade entre os irmãos ou a infidelidade do mais velho (Dirk Bogard) e a sua impaciência perante o naufrágio paterno que se arrasta.

O romance torna-se, assim, o exercício do poder patético dum moribundo sobre os vivos e futuros juízes da sua arte de iludir a morte.

Aquele final tranquilo nos jardins, com a família como que descendo  do pódio depois do régio "Let there be no kisses, nor touch" dum pai entronizado é a sua última vaidade.


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