segunda-feira, 18 de julho de 2011

SONHO SEM DESPERTAR



“Àqueles que podem ouvir-me, digo-lhe: ‘Não desespereis. A desgraça que nos caiu em cima não é mais do que a passagem da ganância, a amargura dos homens que temem o caminho do progresso humano. O ódio dos homens passará e os ditadores morrerão, e o poder que arrebataram ao povo voltará ao povo. E enquanto que os homens morrem, a liberdade não perecerá jamais.’”

“O Grande Ditador” (1940) de Charles Chaplin



O final do “Grande Ditador” é uma surpresa para toda a gente e não parece fazer parte do filme. Dir-se-ia uma solução como a que os Gregos inventaram no seu teatro: o “Deus ex machina”.

O barbeiro judeu, incarnando o personagem de Hynkel, faz um discurso aos povos a favor da paz universal, evitando, assim, que o que começou como comédia (a cena do canhão anti-aéreo) acabe como tragédia. O discurso de Hynkel é um sonho a que faltou o despertar ( e é o despertar que "faz" o sonho). Faltou o amanhecer no gueto ou no campo de concentração. Nunca mais se voltou a fazer nada de parecido, porque é contra a própria sintaxe. É como a distribuição de panfletos dentro do espectáculo. Quanto mais eficaz não é o ataque aos ridículos do ditador!

O discurso é como se o “clown” tivesse perdido fé na sua arte. Se pensarmos no quão desiludido com a incompreensão do público americano, depois dos escândalos e da perseguição política de que foi alvo, essa hipótese parece-me muito razoável.  Calvero, mais tarde, em "Luzes da Ribalta" enfrentará o momento da descrença total perante a sala vazia.

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