sexta-feira, 1 de julho de 2011

SOMBRAS

Paul Éluard (1895/1952)


“Cada um é a sombra de todos.”
(Paul Éluard)



Mas em que vida é que esse todos aparece como um corpo que projecta a sua sombra?

Homero também falava em sombras para se referir aos mortos. E Aquiles, no Hades, preferia ser escravo do seu escravo a continuar uma sombra.

Será a nossa existência individual tão irrelevante ou, como pretende a opinião contrária, é a única verdadeira porque, precisamente, o todos é que é a sombra das vidas individuais? Ora, já dizia Comte que os vivos são governados pelos mortos, o que é uma maneira de dizer que o passado  nos governa. Mesmo o indivíduo tem uma história de sombras que nunca abdicaram do poder. Não foi preciso descobrir os traumas da infância para admitir que o passado “mexe”, em nós, “os cordelinhos”.

Tudo isto não move o debate numa polegada que seja. Por um lado, a ideia de que não somos a “realidade”, o corpo na luz, é platónica e, no fundo, religiosa. Por outro, foi com argumentos desses que se encheram os Gulags em nome do futuro. A essa luz, aquele verso do poeta militante pode ser sinistro.

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