quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

OS DOIS MUNDOS



“Mas, diz Philippe Ariès, enganar-nos-íamos se acreditássemos que a religião é co-extensiva à cultura; uma parte das atitudes em relação ao além varia segundo as crenças, mas uma parte somente; a fé na imortalidade pessoal não impedia os cristãos de querer também sobreviver nos seus descendentes; não excluía também uma outra ‘vaidade’, o esplendor dos funerais: acontecimento metafísico, a morte era também um acontecimento social (…).

“in “Le pain et le cirque” de Paul Veyne)



Se há alguma incoerência em apostar nos dois mundos, na nossa crença no além e na vaidade mundana, incoerência que, nos nossos dias, é a dos assumidamente ateus que tomam parte em certos ritos religiosos, porque é esse o costume, ela não se deverá tanto à falta de fé ou de convicção quanto, de facto, à impossibilidade de vivermos numa sociedade completamente desritualizada.

Nesse sentido, os mais coerentes são sem dúvida os eremitas que, longe dos homens, podem ter uma só crença e um só culto.

Tudo o que os homens fazem em conjunto tem qualquer coisa de culto, desde o trabalho ao prazer.

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