sábado, 31 de julho de 2010

IMAGENS E IDEAIS





"A palavra inglesa "image", que vem do Latim imago, está relacionada com a palavra latina imitari, que significa 'imitar'. De acordo com as definições comuns dos dicionários americanos, uma imagem é uma imitação artificial ou uma representação da forma externa de um objecto, especialmente de uma pessoa. As imagens agora expulsam os ideais. Mas um ideal é muito mais difícil de definir. É, suponho que agora diríamos, uma palavra antiquada e uma antiquada noção. 'Ideal' está de algum modo relacionado com 'ideia'. Os nossos dicionários definem-na como a concepção de algo na sua mais excelente ou perfeita forma – algo que existe só no espírito."

"The Image" (Daniel Boorstin)


Isto tornou-se tanto assim que os idealistas não estão longe de vir a ter uma qualquer explicação psiquiátrica (curiosamente, não era esse o tratamento dos dissidentes na ex-URSS?).

A norma passou a ser a imagem, isto é, algo que nos serve e que se tem de adaptar a nós, ao invés do ideal. "Se a imagem duma empresa ou a imagem de um homem sobre si mesmo não é útil, é descartada. Uma outra pode servir melhor. Uma imagem é feita por encomenda, à nossa medida. Um ideal, pelo contrário, tem direitos sobre nós. Não nos serve; servimo-lo nós. Se tivermos dificuldade em alcançá-lo, assumimos que o defeito é nosso e não do ideal."
(ibidem)

Houve, claro, uma revolução silenciosa e insidiosa nas nossas mentes, por força do novo contexto tecnológico.

Mas mesmo sem a Revolução Gráfica, como lhe chama Boorstin, o idealismo sofreu um rude golpe, quando os ideais (que existem só no espírito) foram identificados ou confundidos com a ordem dos factos. Foi assim no país em que comecei por falar, que era tão perfeito e tão ideal que só a loucura (ou a traição) poderia explicar que não se tivesse a mesma opinião.

Aqui, também, o ideal se tinha transformado em imagem.

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