quarta-feira, 21 de julho de 2010

PROMESSAS





“Os grandes conflitos consistem, mais do que os pequenos,

de imaginação; a dos povos faz algumas vezes só por si a guerra civil."

Cardeal de Retz (Memórias)


Há que fazer, à partida, uma escolha entre a política e a moral. E quem preferir dizer sempre a verdade, em todas as circunstâncias, e ser sempre coerente com o que disse, não deve fazer política.

Porque, pelo menos em democracia, todos se sentindo obrigados a fazer promessas, ninguém pode responder pelo futuro. É natural, além do mais, que quanto mais um homem se envolve na atmosfera dum partido e na engrenagem do poder, mais está sujeito a iludir-se sobre o que realmente pode. Daí que todos tenham que mentir, e alguns o possam fazer com a melhor das consciências.

Já Platão admitia a necessidade em que o médico algumas vezes se via de ter de mentir a um doente (ou ocultar-lhe a verdade) e que para a imaginação colectiva (que está para a razão como a doença está para a saúde) é mais eficaz o uso das fábulas do que a verdade crua.

Por isso, quando me dizem que determinado político é desonesto só porque não faz hoje aquilo que prometeu ontem, parece-me que mesmo as pessoas honestas, naquele sentido, e bem intencionadas, precisam de recorrer à demagogia, que é uma espécie de combustível da democracia.

Mas não há nenhum erro causado pela demagogia que a força maior ou a demagogia contrária não possam corrigir.

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