sexta-feira, 14 de maio de 2010

JAZZAR


"(O jazz) é essencialmente uma arte colectiva. A criação nele é raramente individual. Quando numa orquestra um solista improvisa é apoiado pelos membros da secção rítmica que podem influenciar enormemente a sua maneira de improvisar, do mesmo modo que o jogo do solista influencia, pelo seu lado, o estilo da secção rítmica. Decerto acontece que o jazz conheça a criação individual: tal é o caso do pianista tocando o solo sem o menor acompanhamento. Mas os solos de piano derivam directamente da criação colectiva, porque, na origem, os pianistas de jazz tocavam unicamente para fazer dançar, e, como se disse acima, os dançarinos influenciam os músicos, pelo menos do ponto de vista rítmico (que é o mais importante)."

(Hugues Panassié, "Le Point" nº XL, 1952)


O articulista diz que os músicos de jazz não tocam como se ensina nos conservatórios, pois tocam "como cantam". Sendo o estilo vocal negro muito diferente da técnica vocal europeia, temos aqui um dos mais prolíficos encontros de raças e culturas diferentes.

Já se comparou o jazz à conversação. Isso esclarece, talvez, o que se passa quando se fala só por falar, com outra ou outras pessoas. As palavras não estão ali por elas mesmas e não tem importância aquilo a que se referem. Muito da nossa conversação é coral. Uma anódina observação sobre o tempo, só para não estarmos calados, é já um passo de dança.

Por isso as pessoas com um problema de adaptação de ritmo parecem menos sociáveis.

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