sábado, 1 de maio de 2010

A FABULOSA ENGENHARIA


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"O gerente ganha à sua custa de mil maneiras. Vende mal e dar-lhe-á para isso mil razões; a verdadeira razão é que está associado com o comprador e recebe um prémio por todos os maus negócios que faz. Paga obras demasiado caras, mas é porque se associou com o empreiteiro contra si. Repara, faz novo, é, por um lado, porque é comerciante destas coisas que compra para você. Coisas inúteis? De modo nenhum. Provar-lhe-á que são úteis e você acreditará porque é para acreditar nele que lhe paga: ele está encarregado de pensar por você."

“Propos d'Économique". (Alain)



Estas linhas escritas há mais de setenta anos são ainda actuais na presente crise em que balouçamos?

Os que enriquecem com a ruína dos outros nunca se mostraram tão perto da ribalta, tão apoiados no sistema e com tanta falta de pudor.

É verdade que os "gerentes" ganham prémios milionários por planearem a falência de empresas viáveis. Como se descobriu com a Goldman Sachs que vendia "produtos complexos do tipo dos subprime baseados em créditos imobiliários de risco, sem advertir (os clientes) que, ao mesmo tempo, apostava na sua queda."(Le Monde de 27/4/2010).

É ainda o "Le Monde" que nos informa do conteúdo duma mensagem de Fabrice Tourre o "gerente" mais criativo da Goldman Sachs à sua "petite amie" a explicar o esquema: "Efeito de alavanca financeira cada vez mais forte, o edifício inteiro corre o risco a todo o momento de se afundar. Único sobrevivente potencial, o fabuloso Fab (...), de pé no meio de todas estas transacções complexas de forte alavancagem, exóticas, que ele criou sem forçosamente compreender todas as implicações destas monstruosidades!!!"

A reencarnação do gerente de Alain tem toda uma outra liberdade de acção e uma outra escala de proveitos na razão inversa da sua responsabilidade. Os clientes destas instituições financeiras, os investidores ( mas será legítimo empregar estas categorias quando são os contribuintes no final a pagar a factura?) são facilmente enganados por não penetrarem a complexidade, propositada ou não ( complexidade que, pelos vistos, nem os aprendizes de feiticeiro são capazes de compreender), do negócio e deixam aos "gerentes" o encargo de pensar por eles.

Ora, a divisão de tarefas na nossa sociedade é cada vez mais complicada e não há nenhuma esperança de acabar com os "pescadores de águas turvas". Eis por que a auto-regulação do sistema tem todas as semelhanças com um suicídio.

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