quarta-feira, 12 de maio de 2010

LA DOLCE VITA


Escravo seduzido pela matrona?
(Mosaico da Piazza Armerina)



"Havia em Roma cumplicidades de salão, um esoterismo mundano e também uma publicidade da dolce vita; lisonjeados por falarem deles, os nobres não desdenhavam ter uma amante conhecida, se ela lhes fosse inferior, se não fosse uma dessas matronas que era preciso oficialmente respeitar; faziam publicidade disso junto dos seus pares, e até, se fossem personagens públicos, junto do bom povo."

"L'élégie érotique romaine" (Paul Veyne)


Se lhes fossem inferiores, isto é, se fossem plebeias ou libertas; as escravas e os escravos não podiam pesar na balança. Eram, com toda a "naturalidade", um objecto doméstico, incluindo nessa qualidade o facto de serem sexuados, sem merecerem sequer, na maioria dos casos, o ciúme da uxor ; as escravas, se não fossem libertadas pelo seu senhor, não chegavam ao estatuto de concubinas ou amantes e, por isso, não eram coisa sobre que se fizesse publicidade.

Quanto ao amor das matronas ( senhora dos seus actos, é, segundo Veyne, um dos sentidos da noção de matrona) que deviam usar um vestido comprido (a stola) assinalando que eram intocáveis, tinha depois de Augusto, muito perigosa publicidade. O amante surpreendido, fosse ele senador, podia, nestes casos, "ser espancado pelos escravos do marido, regado pelo mijo da criadagem, por ela sodomizado ou pelo marido em pessoa, desfigurado, castrado como Abelardo ou, no melhor, libertado contra o pagamento dum resgate."

Só o apelo do fruto proibido podia levar a correr tais riscos. Se os Romanos tivessem a mesma ideia sobre o sexo que nós temos, um território sexual tão vasto como o que a escravatura lhes proporcionava teria antecipado de alguns séculos a sua decadência.

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