sábado, 11 de abril de 2009

GANÂNCIA OU ESTUPIDEZ?


Pieter Brueghel, The Parable of the Blind (1568)


"Existem dualismos por toda a parte: espírito ou matéria, literatura ou pornografia, investimento ou especulação. Ainda hoje no New York Times, David Brooks se perguntava se a nossa presente crise era devida à ganância ou à estupidez e sentiu-se obrigado a optar pela estupidez."

Emanuel Derman (in Edge)


O dualismo, como diz o articulista, é um sinal de complexidade, "uma tentativa de forçar a dualidade na unidade" e cita o exemplo dos físicos que aprenderam a converter o dilema onda ou partícula numa questão de onda e partícula e "vivem com isso, ou pelo menos deixaram de pensar nisso enquanto puderem continuar a ter sucesso nos seus cálculos."

No caso da crise que nos caiu em cima, a ganância é o que melhor corresponde à indignação generalizada pelas proporções da catástrofe. E naqueles que cegamente confiaram nas virtudes do sistema para se regular a si mesmo, como se as forças positivas e as forças negativas encontrassem automaticamente um ponto de equilíbrio, o sentimento de terem sido traídos e do desabar dum mito que entre os americanos era quase patriótico.

Mas se os cálculos dos mais espertos e dos mais doutrinados falharam tão clamorosamente, apesar dos numerosos sinais de alerta, é de facto a estupidez, ou a parábola dos cegos tal como Brueghel no-la representou que se impõe.

A velocidade das redes de computadores e a infinita massa de informação disponível tomaram-se precipitadamente como sinónimos de controlo e de supervisão, levando alguns, pateticamente, a confundir a realidade com as suas simulações cada vez mais inteligentes.

Ora, a estupidez pode conviver com a maior inteligência relativa, e um facto parece impor-se com a revolução do computador, é que a tecnologia, sendo parte da complexidade do mundo, não nos torna mais clarividentes.

Podemos ter atingido o ponto de estarmos perante o mundo que ajudamos a criar tão sujeitos à superstição quanto a humanidade primitiva.

Para nos vermos tal como somos é melhor contemplar a nossa irremediável impotência do que deitar contas ao caminho andado. Todos os progressos são mais do que compensados pelo aumento da complexidade.

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