segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ADMINISTRAR E GOVERNAR

"A Turma" (2008-Laurent Cantet)


"A administração é semelhante a uma razão mecânica. Tudo nela é irrepreensível e tudo é inumano. O princípio, de bela aparência, é o de que é preciso saber antes de agir; somente que saber não é pouca coisa; saber é fazer o inquérito a tudo e as contas a tudo; é deliberar sobre os inconvenientes, sobre as vantagens, sobre o provável, sobre o possível. É regulamentar mil golpes de picareta antes de dar o primeiro. Saber, é ter olhos em todo o lado; é unificar, é reunir. porque pode ser que se tenha, aqui lenha a mais, além carvão a mais, que as batatas apodreçam num ponto enquanto que faltam noutro; adivinhais os papéis e as estatísticas; e isso é razoável, demasiado razoável."

"Propos d'Économique" (Alain)


Pode-se administrar o mais racionalmente possível, uma empresa falida sem que com isso se faça mais do que condená-la ao seu destino. O exemplo perfeito é a administração militar, que sendo ruinosa, não deixa de calcular tudo ao pormenor, em função das suas necessidades, em termos de armas e munições, rações e botas.

É este espírito que deita a perder um processo de avaliação, como o que o governo definiu para os professores. Está demasiado bem regulamentado e tem certamente em conta os factores mais relevantes, mas com o resultado de se desmultiplicar em efeitos perversos que põem em causa o mais importante que não é saber quem são os melhores professores, mas educar melhor os alunos. O inquérito pode prejudicar, embora muito racionalmente, a função principal, como parece que acontece.

À noção do que é mais importante corresponde um juízo e uma decisão que distinguem uma política racional duma administração racional.

De resto, talvez que a crise do ensino seja um fenómeno cultural que pese menos sobre a competência de quem ensina do que no que se ensina e a quem. O professor François Martin de "A Turma", o filme de Cantet, não podia ser mais diligente, nem conhecer melhor a matéria. Não tira que, realmente, o seu melhor resultado seja administrar, nem sempre com êxito, a disciplina.

Mas porque a questão da competência não é despicienda, devia dar-se uma verdadeira oportunidade à avaliação, descentralizando-a, abdicando o Ministério da óptica da Intendência militar.

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