segunda-feira, 3 de novembro de 2008

FORA DO CÂNONE



"No coração das concepções de autonomia moral e política de Kant está também um argumento acerca da estrutura essencial do próprio humano. Muito simplesmente, Kant defende que o ser humano só cumpre totalmente as suas qualidades como um ser humano se racionalmente obtiver as condições da autonomia moral: se como um sujeito legal, puder regular as suas acções por princípios reflectidos universalmente necessários."

"Niklas Luhmann's Theory of Politics and Law" (Michael King e Chris Thornhill)


Contra este cânone da moral política que rege a nossa concepção de democracia e, por exemplo, a teoria dos Direitos do Homem, Luhmann destitui o indivíduo desse poder legislador e põe em causa a autonomia da sua razão.

"Os conceitos clássicos de correcção e racionalidade das decisões individuais são de todo inadequados à complexidade funcional da sociedade moderna e, de facto, colocam limites a priori ao potencial de complexidade da sociedade." (ibidem)

Em vez disso, haveria, segundo ele, que reconhecer uma racionalidade e uma capacidade de autonomia na esfera dos sistemas e do transpessoal.

"A racionalidade que espoleta a mudança social, mesmo aquela que traz melhorias sociais, não é - para Luhmann - a racionalidade reflexiva de pessoas concretas, mas a racionalização interna de sistemas, na medida em que reduzem e desenvolvem complexidade no processo da sua auto-estabilização." (ibidem)

Algo como isto está presente numa realidade como a linguagem e num conceito como o da razão universal. Não há dúvida que o sistema linguístico se formou no transpessoal e não através da decisão dos indivíduos. E quando pensamos no acordo que seria possível entre todos os homens na Razão, postulamos uma dimensão não individual da racionalidade.

Por aqui se explicaria também o "maravilhoso" acordo que parece existir entre, por exemplo, a natureza e a matemática.

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