quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

QUANDO ZEUS PERDE A CABEÇA


"Sólon e Cresus" (Honthorst, Gerrit van)

"Sólon aprofundou esta ideia, através da sua grandiosa fé na justiça. A "justiça" é para ele um princípio divino imanente ao mundo, cuja violação deve ser vingada necessariamente, e independentemente de toda a justiça humana. Desde o instante em que adquire plena consciência disto, o Homem participa, em grande medida, na responsabilidade da sua desventura."

"Paidéia" (Werner Jaeger)


O destino já não está todo na mão dos deuses. E essa passagem, segundo Jaeger, é já visível na "Odisseia" , quando o poeta declara "que o governo divino do mundo se encontra livre de culpa quanto às desgraças que sucedem ao Homem."

Mas, na "Ilíada", o poema da força, na expressão de Simone Weil, não é assim. Os deuses intervêm constantemente, seja enfurecendo Ajax até à cegueira, seja arrancando das garras da morte o vencido cujas armas qualquer herói grego ou troiano se preparava para levar como despojo.

Mas é só para submeter deuses e homens à Lei que nem o próprio pai dos deuses pode ignorar.

A imagem da alma que escolhe, no relato de Er, em Platão, o mesmo embrulho de venturas e desgraças, apesar de ter bebido a água do Letes é a mais verdadeira.

Por isso, a justiça faz-se sempre neste mundo, e não no outro, como Sólon pensava. Se esquecermos a sorte que às vezes parece proteger os maus e perseguir os bons.

"É o resíduo da velha Ate de que fala Homero." (ibidem)

(Ate é a deusa a quem Zeus, enfurecido por ter sido enganado, puxou pelos cabelos e projectou para fora do Olimpo, mas para cair num sítio onde, mais tarde, havia de ter lugar a Guerra de Tróia.)

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