domingo, 8 de agosto de 2010

A RETÓRICA DOS PINGUINS




"O filme foi anunciado como um documentário épico, com sentimento, sobre a vida selvagem; contudo, o subtexto subtil mas familiar produziu alguma especulação no público sobre uma agenda política disfarçada. Para a vasta maioria do público, o documentário era mais um filme espectacular sobre a vida selvagem, um episódio de uma recente tendência nos filmes. Para uma audiência muito particular, a retórica da "A marcha dos pinguins" circulou como uma narrativa que naturalizava a agenda política do fundamentalismo cristão.

(…) À superfície, "A marcha dos pinguins" é um olhar sobre a vida e a adaptação dos pinguins imperadores ao agreste e mutável ambiente que os cerca. Ao nível formal, a narrativa do filme, o enquadramento, a selecção de conteúdos e a técnica de montagem encorajam a audiência a ler conexões entre a vida dos pinguins e a dos humanos."


"The Re-visioned American Dream" (Angela J. Aguayo)


Pergunto-me se seria possível um olhar puramente "documental" sobre o que nos parece o drama da adaptação do pinguim imperador. Em primeiro lugar, o drama cinematográfico impõe uma linguagem do movimento que obedece à flecha do tempo, que não é reversível, e a que não podemos deixar de atribuir causas e motivos.

A identificação do comportamento de homens e animais em situações de sobrevivência não parece injustificada. O contrário levar-nos-ia a isolar o homem da natureza (o que é sem dúvida uma corrente actual muito forte).

Se os humanos tivessem que experimentar as condições rigorosíssimas que enfrentam aqueles animais, decerto que toda a nossa civilização não nos impediria, no essencial, de nos parecermos com eles. Nem nos viria à cabeça especular sobre a melhor forma de acasalamento ou de criação da prole.

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