segunda-feira, 16 de agosto de 2010

NAS ASAS DO DESEJO


(José Ames)



“A possessão por um deus – o entusiasmo – não é o irracional, mas o fim do pensamento solitário (...) – já Desejo.” Emmanuel Levinas (in “Totalidade e Infinito”)


Quando se vê o que as pessoas pensaram e fizeram num período (como achar um adjectivo sem lhe dar ao mesmo tempo uma conotação?) tal como foi entre nós o 25 de Abril e os meses que se lhe seguiram e se compararmos isso com o que dizem e fazem hoje em dia as mesmas pessoas, torna-se evidente que não podemos levar tudo à conta do envelhecimento ou da perda de significado dos ideais. Novos e velhos, e de todos os credos, naqueles tempos estávamos, de facto, possuídos. Mas o Desejo de que fala Levinas, da transcendência, não pode ser satisfeito por nenhum governo nem nenhum regime.

Se os cravos murcharam foi, pois, por uma inelutável necessidade.

Se perguntarmos agora onde se encontra hoje esse Desejo, eu diria que ele regressou ao coração de cada indivíduo e alimenta, como sempre, os seus sonhos, sem a ilusão da coincidência (com o desejo dos outros).

Podia dizer-se, então, que os homens fazem a história nas asas do Desejo, mesmo quando pensam voar com todos os seus meios aéreos ou cavalgar as forças.

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