domingo, 15 de agosto de 2010

"A MÁSCARA" DE INGMAR BERGMAN


Bibi Andersson e Liv Ullmann



A actriz, no meio da sua deixa, em “Electra”, emudece. Electra que é a filha duma má mãe, Clitemnestra, sendo Elisabete a mãe dum rapazinho feio e de lábios grossos.

Uma enfermeira, chamada Alma, procura arrancá-la a esse silêncio. Mas ela própria, com uma história de aborto mal assumido, não resiste a confiar-lhe a sua solidão, tomando a bondade da escuta pelo que não é. Quando, através da leitura duma carta mal fechada, conhece o pensamento de Elisabete, fecha-se por sua vez, opondo uma máscara à outra máscara.

A actriz que se protege dos sentimentos (ela recusa a sua maternidade), impedindo-se o acesso à fala e encerrando-se num mundo sem alteridade, encontra-se agora diante dum espelho (Alma identificou-se consigo a ponto de halucinar a sua culpa (invocação da presença de Björnstrand ), em que a palavra vai estilhaçar a sua defesa e arrancar-lhe a voz, no final.

Persona, o título original do filme de Bergman, é uma palavra de origem etrusca que significa a máscara usada no teatro, ou a personagem. Não se compreende a máscara sem a linguagem que a confronta com as outras personagens. Quando o Outro que é posto pela linguagem é negado, resta a esquizofrenia do Mesmo.

Electra cala-se no palco porque um mundo deserto é um mundo do silêncio. A tragédia desenrola-se atrás da máscara, sem saída.


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