terça-feira, 3 de agosto de 2010

PARÁBOLAS




"Não escreveu, não ditou, as suas palavras faziam a viagem das abelhas sobre as pétalas abertas das orelhas. Salvou uma mulher condenada à lapidação pedindo aos seus acusadores que o primeiro dentre eles, desde que puro de pecados, se chegasse à frente com a primeira pedra. Sabia que os homens atiram com prazer as segundas. Diversas mulheres o seguiram de lugar em lugar juntamente com os apóstolos. Não pediu abstinência, o celibato veio depois, feito pelas igrejas."

"O caroço de azeitona" (Erri De Luca)


Não é a psicologia que explica o efeito maravilhoso daquela excepção: desde que "puro de pecados".

Não é preciso viajar no tempo para encontrar quem, pecador aos olhos do Mestre, impoluto se julgasse. Diz-se que os fariseus eram hipócritas, mas depressa de mais. Porque o cumprimento da letra predispõe, em muitos, à boa consciência. Claro que há aqui uma certa estupidez que, precisamente, não deixa ver o espírito. Mas já é outra ordem de razões.

Se ninguém se apresenta para atirar a primeira pedra, isto é, se todos são sensíveis à verdade e não os tolhe o orgulho, nem a doutrina ou outro empecilho qualquer, é porque isso é exigido pela forma literária.

A parábola tem uma economia que não é da vida, embora exista para ser imitada, e assim é que deve ser.

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