sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A DECADÊNCIA POLITICA


Maria Amália Vaz de Carvalho (1847-1921)


"Se António Cândido, faltando à verdade da sua inteligência e à verdade da sua consciência, tivesse declamado pomposamente sobre a decadência política dos nossos dias, atribuindo-a aos manejos maquiavélicos do sr. Fontes, que Deus haja, uns aplaudiriam entusiasticamente, outros invertendo o caso, lançariam a responsabilidade dessa decadência às lucubrações misteriosamente perversas do sr. José Luciano, que Deus conserve, mas ninguém alcunharia de anti-patriótica a inspiração honrada desse discurso, tão belo pela arte com que foi dito, como foi grande pela sincera verdade com que foi pensado."

"Alguns homens do meu tempo" (Maria Amália Vaz de Carvalho)


Em relação a esta ideia do parlamentarismo, o que mudou?

A fulanização funciona melhor dentro do mesmo partido (o marxismo passou por aqui), quando duas ou mais individualidades disputam a liderança. Mas, fora disso, os partidos atribuem-se uns aos outros o vício duma doutrina ou o dum sistema.

Se decadência há (mas este é um termo fora de uso; teríamos de recuar à época dos Descobrimentos e da partilha do mundo para ele fazer sentido), ela deve-se, para a esquerda, à natureza de classe de todos os outros partidos e, para a direita, a um ideário perverso e desactualizado.

Não que a crítica ao sr. Fontes ou ao sr. José Luciano deixasse supor que um outro homem podia mudar tudo, porque o espírito partidário rapidamente transferiria para o sucessor o estigma do novo líder.

Nesse sentido, nada mudou. Os partidos referem-se muito mais a eles mesmos e aos outros partidos do sistema do que a quaisquer objectivos programáticos.

Onde quer que a opinião se organize, esta só poderá subsistir mantendo a todo o custo a diferença semântica que se justifica a si mesma, o que a simbólica das cores não ilustra tão mal quanto isso.

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