domingo, 21 de outubro de 2007

O HOMEM QUE GOSTAVA DO DESERTO


Howard Hughes

No “Aviador”, filme de Martin Scorcese, a caricatura do milionário, privilegiado sem alma, indiferente à sorte do seu semelhante, não existe. O que existe é a ideia duma paixão útil ao seu país: os aviões, mesmo se a excentricidade tudo parece sobrelevar.

Assim, o egoísmo e o prazer contribuem, consumindo o corpo, os milhões públicos e os da fortuna pessoal para o progresso duma indústria que interessa a todos.

Claro que Howard Hughes nos é apresentado como um louco visionário, amado mesmo pelos seus fracassos, que, apesar de tudo, sabe que existe uma espécie de Providência que transforma os erros privados em virtudes públicas. A história da aviação seria assim, como a de outras grandes realizações humanas, feita de génio, coragem, desapego pelo valor do dinheiro e de desafio das leis e das mentalidades.

A sua defesa no tribunal contra o requisitório do seu principal concorrente (a Pan Am) é uma invocação da ideia mais cara aos Americanos e que lhes vem dum período da sua história em que o Estado não era garante de nada: a iniciativa individual.

O fim de H.H. na loucura contribui para dissociar a sua figura da iconografia do capitalista, mesmo excêntrico. E se é verdade que nunca se perdoará a um multimilionário o seu dinheiro, também não se pode julgar a vida de um homem senão depois de ele morrer (Séneca).

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