quarta-feira, 12 de agosto de 2009

HANNAH E SIMONE


Hannah Arendt e Simone Weil


"(…) S. Weil estigmatiza o individualismo latente da filosofia moderna do direito em nome da transcendência ético-metafísica. Mas, em consequência, a necessidade do direito parece negligenciada onde, finalmente, Arendt reconhece melhor o seu papel de mediação entre os indivíduos e a ordem política como tal (P. Moreau).

Se as proximidades parecem frequentes no plano ético-político, as coisas parecem à primeira vista mais difíceis no plano político-religioso. Arendt vê o germe do totalitarismo, não em primeiro lugar na absolutização do poder, mas 'na tentação da bondade' veiculada pelas revoluções modernas secularizando o desejo de incarnação do cristianismo (G. Decrop). O cristianismo seria assim 'anti-político' por natureza, centrado num além sem relação com a visibilidade do mundo, salvo corrupção perigosa da sua essência."

Emmanuel Gabellieri (coordenador do colóquio internacional "Amor mundi, Amor Dei. Éthique, politique et réligion chez Simone Wil et Hannah Arendt" organizado pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Lyon (2002)"


A experiência do nazismo pode ter na origem um desejo religioso, não havendo fanatismo senão de religião? Existirá, de facto, uma matriz comum por detrás da ideia de mudar o homem para seu bem, mesmo contra a sua vontade, e a ideia de "purificar" a raça e livrar a humanidade do sangue contaminado duma estirpe inferior ou maléfica para a saúde do arianismo e a sua hegemonia?

Para S.Weil, a "'banalidade do mal' habita toda a história humana, onde H. Arendt faz dela um traço específico do totalitarismo moderno, por meio do qual o mal absoluto entrou na história. S. Weil é menos pessimista neste ponto, mas é-o mais, em contrapartida, quanto ao laço eterno entre o mal e o político, ligado ao 'prestígio do poder', a acção autêntica consistindo em opor à fascinação do poder a frágil beleza do mundo comum ('Venise sauvée'), enquanto Arendt insiste mais na exigência duma pluralidade na acção (G.P. de Nicola)."

Embora os horrores do genocídio estejam presentes desde o próprio Antigo Testamento e, assim, não haveria que falar no mal absoluto, talvez se possa entender essa ideia através da mesma "banalidade do mal" que significará que o mal enquanto oposto do bem terá deixado de se reconhecer quando todos os limites foram ultrapassados. Então, para falarmos do mal só poderemos referir-nos ao Absoluto, porque o nazismo e o stalinismo puseram a ética comum no museu da história, "ao lado do fuso e da roca de fiar". Na mesma medida, só poderíamos também procurar o bem absoluto. É a ideia de Simone Weil.

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