domingo, 9 de agosto de 2009

AS ALTURAS


http://www.science-et-vie.net/img/illustrations/T/trou-noir-stellaire.jpg


"Há espanto diante da extraordinária ruptura do alto num espaço fechado ao movimento. A altura toma assim a dignidade do superior e torna-se divina. Desta transcendência espacial atravessada pela visão, nasce a idolatria.

Diferentemente da agitação em que se debate a concupiscência (epithemiticon), diferentemente das deslocações para o alvo em que o olho antecipa o gesto da mão, a abóbada celeste confirma o repouso imperturbável da terra firme. Este repouso reina e, para a autoridade do soberano, eleva-se a obediência anterior a todo o juramento, a religião."

"Transcendance, idolâtrie et sécularization" (Emmanuel Lévinas)


Nesta arquitectura do espírito, como se vê, a ideia de Deus não é necessária. O contraste entre o céu ilimitado e a terra onde tudo é limite é representado no olhar daquele que adora, como toda a arte religiosa no-lo deu a ver. Assim, é o Deus dos idólatras, do terrível e do sublime kantiano que cai no âmbito da desproporção física. Essa desproporção "torna-se divina", como diz Lévinas.

Todos os que são testemunhas desse incomensurável não podem senão fazer corpo, identificando-se com uma certa abjecção.

Este ligar-se com (re-ligare) começa por ser a fisiologia do grupo para se erguer depois à altura do diálogo com a divindade.

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