sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A ERUDIÇÃO QUE DESAGRADOU A GOETHE


Palermo - 1740

Com modos muito pouco corteses, admoestei-o por estar a lembrar-nos esses fantasmas do passado. E fiz-lhe ver que já nos chegava saber que de tempos a tempos as colheitas eram arrasadas, senão por elefantes, pelo menos por cavalos e homens. Se ao menos não nos assustassem a imaginação e o seu sonho de paz com essas pelejas revisitadas!”

Assim se refere Goethe, nas suas memórias de Itália, ao incidente com o guia que insistia em lembrar-lhe que o lugar que visitavam, perto de Palermo, tinha sido o cenário da batalha de Panormus (251 AC), na qual o general cartaginês Asdrúbal fora derrotado.

Ao poeta chega o encanto do lugar e do momento presente, mas aquele tom até para si parece incompreensível, porque não é livre de preconceitos que a beleza se nos oferece. E a história romana, e o prestígio das suas personagens não é o que menos atrai ao passear entre as ruínas, as quais aparecem, então, como um índice materialmente pobre duma ideia maravilhosa que se alimenta das nossas leituras ou de outras formas de criarmos os mitos.

Como é do seu tempo o imperativo hedonista de agarrar o momento (carpe diem)! Porém, o seu sentimento de culpa, visível no tom de voz deslocado, anuncia já o espírito do turista moderno sempre em busca de informação e do “ter estado ali”.


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