sexta-feira, 24 de julho de 2009

A TRANSCENDÊNCIA DA LEI


"The Trial" (1962-Orson Welles)


"'Mas terá ele compreendido o que estava a ler?' Enquanto a conversação prosseguia, Block movia continuamente os lábios e estava claramente a formular as respostas que esperava que Leni desse: 'Bem, eu não posso naturalmente dar a isso uma resposta certa, mas pude ver que ele lia aplicadamente. Passou todo o dia a ler a mesma página, correndo as linhas com o dedo. Sempre que eu ia ver, ele suspirava como se essa leitura fosse uma trabalheira para si. Presumo que os papéis que lhe deu são muito difíceis de compreender.' 'Sim', disse o advogado: 'isso são certamente. E não penso que ele tenha realmente compreendido o quer que seja. Mas pelo menos deve ter ficado com uma ideia da dura luta e do muito trabalho que é defendê-lo."

"O Processo" (Franz Kafka)


É costume falar em absurdo a propósito desta literatura. E a dependência e a fraqueza do indivíduo perante um sistema que só pode crescer em complexidade e tornar-se tão obscuro a ponto de se confundir, cada vez mais, com a arbitrariedade desafiam a razão por, aparentemente, o homem ser aqui vítima de si próprio ou da sua criação.

À medida que a justiça, enquanto máquina, mais parece existir para si própria, perfunctoriamente, as figuras de Block, num registo mais leve e de Joseph K. no tragicómico tornam-se figuras universais.

Quanto aos advogados, como Hudl, cuja inutilidade K. julga ter penetrado, são depois dos juízes os maquinistas essenciais.

Mas a justiça como ideia, como silhueta, não se confunde com a produção da máquina.

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