terça-feira, 21 de julho de 2009

ARROZ A VENTOINHA



"Mao ordenou ao povo que matasse os pássaros que comiam o grão, e em resultado disso explodiu a população dos insectos daninhos. Mao redesenhou pessoalmente as técnicas agrícolas da China, especificando a plantação mais junta e as sementes em maior profundidade para aumentar as colheitas. O arroz plantado tão junto não podia crescer, mas os funcionários do partido, ansiosos por agradar a Mao, encenaram exposições do sucesso agrícola e industrial. Quando Mao viajava de comboio para admirar os frutos da sua política, os funcionários locais construíram fornos em fila ao longo da linha e trouxeram arroz de locais a milhas de distância para ser replantado nos campos adjacentes, na densidade especificada oficialmente. E mesmo esta charada não se podia manter sem o uso de ventoinhas eléctricas para fazer circular o ar e impedir o arroz de apodrecer."

"The Undercover Economist" (Tim Harford)


Esses funcionários do partido não fizeram diferente dos burocratas de Catarina a Grande, com as suas "aldeias Potemkine", para a soberana ver.

As ideias técnicas de Mao estavam erradas, mas sempre se podia emendar a mão, com mais ou menos danos, se ao líder supremo fosse permitido falhar. Por isso, o erro não podia existir. Era sempre culpa dos outros ou do clima. Foi essa, de resto, a explicação para as dezenas de milhões de mortos do Grande Salto em Frente.

A prática só é "o critério da verdade" quando não se está no poder. Depois, a verdade passa a ser uma questão de segurança.

O "despotismo esclarecido" do século XX foi uma tragédia, não por causa das intenções ou dos desvios doutrinários, mas porque os meios ao alcance do Estado eram propícios a que os erros atingissem uma escala colossal. Erros que não podiam ser admitidos sem pôr em causa o regime e o esclarecimento do déspota.

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