domingo, 12 de julho de 2009

CONTINGÊNCIA


"A Origem do Mundo" (Gustave Courbet)


"O modo como os cientistas abordam o problema da origem do universo pode ser apreciado se imaginarmos a sala de audiências de um tribunal. A razão por que um julgamento é necessário nesta ramo da ciência é que só há um universo e que a sua criação é única. Os cientistas não podem ir lá fora testar a sua teoria no local, porque o acontecimento acabou. A origem do universo é como um crime que aconteceu no passado, que já não está a acontecer, e tudo o que os cientistas podem fazer é reunir provas apontando para o acontecimento e retirar as melhores conclusões possíveis."

"The Cosmic Code" (Heinz Pagels)


Isto, de qualquer modo, era o estado da ciência há vinte anos. Agora, discute-se se, em vez de um, não existem miríades de universos e evitar-se-ia, assepticamente, o uso da palavra criação.

Temos, porém, melhor do que a metáfora do pretório, com os advogados, defendendo cada um a sua causa e um juiz a decidir, juiz que poderá ser a comunidade científica e decisão que nunca transita em julgado, por bastar uma nova prova para a pôr em causa?

É claro que temos de chegar a conclusões, mesmo que provisórias. Sem isso, regressaríamos sempre ao ponto de partida e a nossa ignorância não seria produtiva. Porque não saber realmente, mas dispondo de uma teoria, é um progresso considerável em relação ao que não tem nenhuma ideia para falsificar.

Assim, a contingência quanto ao passado e à questão insolúvel por excelência, a da origem de tudo, é tão avassaladora quanto a contingência relativa ao futuro.

0 comentários: