sexta-feira, 20 de outubro de 2006

RAZÃO MAIOR


Joseph Ratzinger


O discurso do papa na Aula Magna da universidade de Regensburg é uma peça notável, um contra-ataque teológico à tendência espiritual do nosso tempo.

Ao proclamar a unidade da razão e da fé, levantando o pé-de-vento que se sabe com a citação de Manuel II, o Paleólogo, que vinha absolutamente ao caso na sua argumentação, a Igreja, na sua pessoa, vem, no sentido contrário do que chama as 3 deshelenizações (a Reforma, a auto-limitação da razão das "Críticas" de Kant e o moderna reapropriação multicultural das origens, em prejuízo da matriz grega), defender um alargamento do conceito de razão que vá para além da síntese actual "entre Platonismo (Cartesianismo) e empirismo, uma síntese confirmada pelo sucesso da tecnologia." Porque "este método exclui a questão de Deus, fazendo que ela nos surja como uma questão não científica ou pré-científica. Consequentemente, estamos confrontados com uma redução do raio da ciência e da razão (...)"

E conclui dizendo que só desta maneira "seremos capazes dum diálogo genuíno de culturas e religiões de que tão urgentemente necessitamos hoje em dia."

Infelizmente, dessa razão expandida pouco mais nos fica do que esta frase: "o elemento platónico traz consigo uma questão que aponta para além de si próprio e para lá da sua metodologia."

Defendendo que as visões interiores e a experiência religiosa das diversas culturas são uma fonte de conhecimento deixa, talvez, em aberto a ideia dum espírito universal que transcenderia, numa nova síntese, a razão pura e a razão prática (nos termos kantianos).

A verdade é que o espírito universal é a melhor definição da razão.

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