sábado, 26 de junho de 2010

GOETHE E AS ARENAS


Goethe

Goethe, ao visitar pela primeira vez o teatro romano de Verona, observava que o povo na Antiguidade era mais povo do que no seu tempo. “Pois um anfiteatro como este presta-se a impressionar o povo consigo próprio, a divertir o povo com o povo”. “Ao ver-se assim todo junto, este tinha de admirar-se consigo próprio; pois como só está habituado a ver-se correr desordenadamente, a encontrar-se numa confusão sem ordem nem disciplina, este animal de muitas cabeças e muitas sentenças, instável e volúvel, vê-se aqui unido num corpo nobre, destinado a formar uma unidade, associado e consolidado numa massa, com uma forma e animado de um só espírito.”

Depois da viagem a Itália do vate alemão, outras arenas se encheram, culminando nos modernos estádios desportivos (significativamente transformados em prisão em certas crises políticas), em que a multidão se vê como força reunida e se permite uma catarse emocional.

Se fosse um regular espectador da televisão, Goethe não poderia deixar de pensar que o espectáculo do povo para si próprio tinha sofrido uma singular transformação. Sendo com mais eficácia controlado pela televisão, a sua presença diante de si mesmo já não é necessária. Disperso nos seus inúmeros átomos ele funciona como um todo, sem problemas de logística, nem repressão.

Foi-se o povo, mas ficou a massa, que às vezes se dá também em espectáculo, mas em diferido, no pequeno ecrã.

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