quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

TÊTE À TÊTE


Michel de Montaigne (1533/1592)


"Este é um livro de boa fé, leitor. Advirto-te desde a entrada que não me propus nenhum outro fim que doméstico e privado; não tive consideração alguma pelo teu serviço, nem pela minha glória: as minhas forças não são capazes dum tal desígnio. Dediquei-o à comodidade particular dos meus parentes e amigos: àqueles que, tendo-me perdido (o que bem cedo farão), possam aí encontrar alguns traços das minhas condições e humores e que por este meio possam nutrir dum modo mais inteiro e mais vivo o conhecimento que tiveram de mim. "

"Essais" (Montaigne)


Assim começa Michel de Montaigne os seus famosos "Ensaios". Os seu parentes e amigos, afinal, somos nós e os que o leram durante este quase meio milénio.

Mas os pensamentos deste homem, "há muito fatigado da servidão da corte e dos empregos públicos" podem dá-lo, realmente, a conhecer?

O seu retiro, aos 38 anos, para o que ele chamava a sua citadela (a torre do castelo familiar), rodeado dos seus 1500 livros, permite-nos hoje deliciar-nos com um espírito livre, igualmente à vontade entre os clássicos greco-latinos e a política do seu tempo (foi conselheiro no Parlamento de Bordeaux), mas a obra é mais um lugar de refúgio do mundo, um tête à tête com a posteridade, do que um retrato do homem.

0 comentários: