quarta-feira, 10 de setembro de 2008

ALLONS, ENFANTS


A guilhotina

"Não houve no processo nenhuma hipocrisia. Todo a gente viu que o que estava em causa era simplesmente matar. Passou-se por cima de todas as formalidades, nesta época ainda usuais no Tribunal Revolucionário. Nenhumas provas comunicadas. Os acusadores (Hébert e Chaumette) foram recebidos como testemunhas. Nenhuma defesa por parte do advogado. Vários dos acusados não puderam falar, coisa bem necessária num processo em que eram colocados lado a lado homens acusados de crimes muito diferentes, uns de factos, outros de palavras, alguns de opinião."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)



O processo dos Girondinos é o exemplo acabado da "máquina" montada pelos homens que se volta contra os seus criadores, impotentes para se libertarem da sua engrenagem.

Não era suficiente a consciência clara por parte de todos do que estava em causa. O processo havia sete dias que não andava nem para trás nem para a frente. Michelet diz que "Era preciso guilhotinar literalmente o processo para se poder guilhotinar em seguida os acusados".

Como o júri não se tivesse ainda pronunciado, os Jacobinos obtêm da Convenção que decrete "que no terceiro dia o júri pode declarar-se esclarecido." É o que nas assembleias sindicais se chama de "lei da rolha". O requerimento para passar à votação. Mas há mais. Este decreto, da mão de Robespierre, como que "absolve" os jurados, endossando a sua responsabilidade. E com isso, de facto, corta a dificuldade como uma espada.

Ninguém, como se viu, engana ninguém, mas todos obedecem a uma necessidade exterior, com as vítimas, os fundadores da República, sacrificando-se sem revolta e entoando os cânticos revolucionários.

Tal como nos processos de Moscovo, nos anos trinta do século passado, mas sem chegarem à confirmação surreal das invenções da polícia, Vergniaud e os seus companheiros estão prontos a morrer pela grande causa e, perante o zelo terrível do que consideram a Virtude, não andam longe de se considerarem, de facto, culpados.

É um pouco académica a questão de saber em que é que a democracia poderia alterar esta situação. Faz sentido julgar este processo pelos seus critérios?

Não é precisamente o consentimento consciente de todos que se busca, finalmente, através da democracia?

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