sábado, 30 de setembro de 2006

JOGOS DE ESPELHOS


Maximilien de Robespierre (1758/1794)

A propósito do Compromisso Portugal, ontem, no "Público", Vitor Dias teve o seguinte pensamento digno de Robespierre:

"Apesar de não ter o hábito ou o método de explicar ou associar mecanicamente as opiniões das pessoas ao seu estatuto social ou nível de rendimentos, creio que teria sido uma bela ideia se, no início de cada intervenção, o ecrã electrónico passasse a informação dos vencimentos, mordomias e bens dos oradores, o que decerto seria muito esclarecedor para os 200 mil trabalhadores da função pública cujo despedimento foi ali proposto, na medida em que ficaria patente que os autores da proposta pertencem a "outro mundo".

Seria um bela censura, como que indexar a verdade à palavra sans-culotte.

Mas a questão tem alguma pertinência.

Já houve um filósofo que disse que o pensamento dum homem é a sua função (Alain). Parece-me mais correcto do que dizer que é o seu rendimento.

De facto, um militar pensará como um militar, um bispo como um bispo, um ministro como um ministro, um deputado como um deputado e um sindicalista como um sindicalista, em vez de o fazerem de acordo com a sua conta bancária.

Um governante não é livre de dizer o que pensa (se não pensar como governante) e o chefe da oposição também não.

Quando ouvimos alguém num cargo de representação ser contrariado, nas suas opiniões, por um outro representante, temos a ilusão de que ambos se referem à verdade, mas que cada um tem um ponto de vista diferente.

Seria, contudo, mais adequado dizer que o pensamento dum é condicionado pelo do outro, independentemente da verdade.

É por isso que o sistema de partidos, considerado fundamental para a democracia, precisa de ser compensado por um amplo espaço de reflexão livre.

0 comentários: