terça-feira, 20 de setembro de 2005

A ROSETA DA NECESSIDADE

Champollion (1790/1832)


 

Hoje, ouvi o motorista do autocarro mandar trabalhar um velho que o censurava, já no passeio, por não ter aberto a porta quando lho pediram.

Felizmente que esta prepotência não ficou sem resposta, o que se notou nas hesitações da condução. A certa altura, parecia que o monstro de aço, ferido no seu ego, ia tomar o partido do condutor, entrando em “panne”.

Mas o que me interessa neste “fait divers” é a presunção, fundada, certamente, na ética judeo-cristã, de que se ofende alguém acusando-o de não estar a trabalhar. Mesmo neste caso, em que, aparentemente, o idoso já teria dado à sociedade o contributo que se lhe podia pedir, a injúria funciona, pelo menos na cabeça de quem a profere.

Ao mesmo tempo, são tantos os inactivos, forçados ou não, legítimos ou não, que a injunção de “ganhar o pão com o suor do seu rosto” parece já uma legenda a pedir a perícia dum Champollion.

Há todo um debate por fazer à volta das modernas figuras da Necessidade.

4 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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