segunda-feira, 22 de agosto de 2005

A SOLUÇÃO MELIANA


Tucídides

 
“Vós sabei-lo como nós, tal como é feito o espírito humano, só se examina o que é justo se a necessidade for igual para ambas as partes, mas se há um forte e um fraco, tudo o que é possível é feito pelo primeiro e aceite pelo segundo.”
(os habitantes da Ilha de Melos aos Atenienses que pretendiam massacrá-los - Tucídides, citado por Simone Weil in “Écrits de Londres”)


Num interessante artigo assinado por Jorge Almeida Fernandes, no “Público”, lê-se, a propósito da situação na Palestina:

“Há uma relação de assimetria. O forte tem a potência e pode arrasar o fraco. O fraco tem a arma da "irresponsabilidade"”
 
Israel tem, pois, o poder e a organização, ou seja, responde pelos seus; os Palestinianos não tem uma coisa nem outra e não podem responder por ninguém, o que impede qualquer negociação.

A violência e o ódio são a consequência deste impasse. O conflito está demasiado internacionalizado e mediatizado, as suas ramificações simbólicas são tão extensas que não é possível ao mais forte usar a solução meliana. 

Falar de potências e de conflitos isolados já não faz sentido. No mundo da comunicação instantânea, a velha pecha apontada aos EEUU de quererem ser os polícias do mundo, significa talvez que se sinta a necessidade duma polícia na “aldeia global”, mas que nenhum país é suficientemente forte para tal.

A retirada de Gaza podia ter sido ditada por essa autoridade supranacional, como passo indispensável para uma pacificação gradual. Mas foi o mais forte dos dois antagonistas que fez esse gesto, sem qualquer compromisso da outra parte.
Ora, é como se Israel tivesse lido no futuro que a sua solidez assenta em areias movediças e que a sua tradição espiritual tem vindo a ser convertida em terras e colonatos.

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