quinta-feira, 4 de agosto de 2005

PORTO DEFUMADO




Podia ser um céu azul cristalino, hoje, à beira-rio, no Porto. Mas uma nuvem de fuligem obscurece o horizonte e vai tomando conta do céu.

Mais um dia de calor, mais quilómetros de floresta ardida, como uma fatalidade.

Uma entidade parece desculpar-nos de irmos todos mais longe: a Seca. Parece que não era assim há quase sessenta anos. E o vento que empurra as labaredas parece um diabo à solta.
Tem de ser possível prevenir e atacar no princípio esta calamidade. Saber se há, na sua origem, uma doença mental endémica ou um comércio frutuoso. Nada há que corrompa tanto o sentimento da justiça como ver soltar um incendiário por não haver lei que o puna. E é mais importante dar aparato à punição justa do que ao sensacionalismo do crime.

Li algures que uma câmara, no nosso país, resolveu ocupar desempregados na prevenção dos fogos. Não sei se é o caminho, mas é algo a enaltecer como experiência.

Os meios são poucos, o voluntariado não alcança a eficácia desejável, são lamentações que se repetem de cada vez.

Uma elite para ocorrer aos fogos no seu início e os meios aéreos indispensáveis podem falhar se tivermos mil incêndios ao mesmo tempo. Mas podemos dar-nos ao luxo de não ter essas forças e esses meios?
Neste momento, entra-me pelo nariz o odor dos bosques incinerados. Pinheiros, carvalhos, eucaliptos, olmos e faias sobem pela chaminé da nossa impotência como vida que se esfuma.

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