sexta-feira, 24 de setembro de 2010

VIAGENS




“O velho substantivo inglês ‘travel’ (no sentido de uma jornada) era originalmente a mesma palavra que ‘travail’ (significando ‘preocupação’, ‘trabalho’ ou ‘tormento’). E a palavra ‘travail’, por sua vez, parece ter derivado, através do Francês, da palavra do Latim Popular ou Românico Comum ‘tripalium’ que designava um instrumento de tortura de três estacas. Fazer uma jornada (‘to travail’), ou (mais tarde) viajar (travel) – era por isso qualquer coisa de laborioso ou de preocupante.”

“The Image” (Daniel Boorstin)


Por isso, as únicas viagens, segundo a etimologia, são as viagens cansativas e arriscadas, em que podemos comprometer a saúde e até a vida.

Antes de surgir o turismo constituíam, aliás, um fenómeno muito raro. Um inglês, como Arthur Young, viajando durante um dia numa estrada importante fora de Paris, admirava-se de não “encontrar uma única carruagem de ‘gentleman’, nem, na estrada, qualquer coisa que se parecesse com um ‘gentleman’.” (ibidem)

Evidentemente que hoje a aventura continua a ser um dos maiores atractivos de uma viagem, mesmo quando o programa está todo seguro e empacotado. A aventura não é mais do que um programa dentro do programa.

Não podemos, porém, ver nesta evolução a perda de uma qualquer “arte de viajar”, porque ela é, antes de mais, um sinal do progresso e da democratização. Não é justo esperar que o turismo de massa produza um Marco Polo ou um Livingston.

Mas haverá sempre uns poucos para quem viajar será algo como desafiar o destino e suportar em espírito de missão os rigores do “tripalium”.

0 comentários: