sábado, 25 de março de 2006

O ESTADO DO PRÍNCIPE ANDRÉ




A mudança em André consternou os que o amavam.
Já não podia sentir. Não compreendia os outros.
É verdade que imitamos para reconhecer.
Mas o príncipe André estava morto.
Apenas a luz fria da consciência
lhe permitia dizer ainda frases insignificantes
dum modo terrível para quem ouvia.
Às vezes morremos assim, por momentos.
De fadiga ou doença.
Parecemos estranhos.
Podem fazer-se reputações para o resto da vida,
construídas em tais lapsos do sentimento.
A caridade tem frio. Recolhe a casa.
Justifica-se com uma ficção de orgulho.
Por isso a moralidade, aparentemente absurda,
de dar a outra face e de responder
com o bem ao mal que nos fazem,
tem todo o sentido.
Mas quem está acima dessas provas?
É a questão.

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