domingo, 4 de abril de 2010

O TRABALHO CLARIVIDENTE




"Seria outra coisa se o operário soubesse claramente, cada dia, cada instante, que parte aquilo que está a fazer tem na produção da fábrica, e que lugar tem a fábrica em que ele se encontra na vida social."

"Réflexions sur la vie d'usine" (Simone Weil)


Mais uns cobres ou o medo de ser despedido não podem ser os principais estimulantes do trabalho, segundo Simone Weil, se queremos transformar a fábrica (estávamos nos anos trinta do século passado) num lugar em que "mesmo se é inevitável que o corpo e a alma sofram, a alma possa, no entanto, experimentar alegrias, alimentar-se delas." Ela pensa, por exemplo, em "fazer percorrer a fábrica, de tempos a tempos, cada equipa de operários, à vez (…), acompanhando a visita de explicações técnicas. Permitir aos operários levar as suas famílias para essas visitas, seria ainda muito melhor."

Mas esta ideia, naturalmente, pressupunha uma fábrica despolitizada e que não fosse vista como um lugar de "exploração" do trabalho. Sem isso, a visita da família seria inconcebível porque ninguém gosta de mostrar as provas da sua humilhação. Era preciso que apenas a necessidade da produção e as condições técnicas fossem a causa do sofrimento, o que dificilmente se poderá verificar onde há homens que mandam noutros homens.

O ideal da compreensão da exacta função de cada um é filosófico e era para Marx um dos antídotos para a alienação do trabalho. Mas nas condições actuais, de desenvolvimento tecnológico acelerado é quase só um voto piedoso.

De resto, enquanto consumidores e utilizadores, estamos cada vez mais longe de compreender os novos objectos e o nosso verdadeiro lugar na vida social.

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